sábado, 17 de julho de 2010

Mapa do itinerário

Clique para ver o mapa em grande formato

Aqui vamos nós de férias.

Picos de Europa de mota… e a 2…

Começou tudo numa brincadeira de final de tarde em Angel 's Farm:
- Férias… como é? Que se faz? Onde se vai? Enfim todas essas perguntas que nos questionamos vezes sem conta.

E…. se fossemos aos Picos de Europa de mota?
(silêncio)

- Epa… era giro..
- Quantos dias?
- Por onde?

Lá se amadureceu a ideia e toca a delinear pontos importantes: itinerário, dias, quem iria, etc.

De vários interessados para a viagem, passámos a únicos. Por razões diversas: a mota não era a ideal; não alugam motas para fora de Portugal; semana em questão não era compatível com logísticas familiares; resumindo, 1 mota e 2 pessoas decididas a fazerem um mega passeio.

Certezas:
- Não há auto estradas;
- Não há horários;
- Não há reservas de dormidas;
- Vamos andando conforme nos apeteça;
- Ficarmos onde quisermos (com “telhado” para a mota);
- Destino: Norte de Espanha (S. Compostela até máximo de Biarritz);
- 6 dias;
- Triumph Speed Triple 1050.

Bagagem:
Saco depósito, alforges e mochila pequena.

Material para o “ai ai e agora?”:
Fitas rápidas, spray de furos, óleo de corrente, alicate universal, corta arame, chave fendas, chave estrela, fita de isolamento de calor, chaves luneta, bocas, e sextavados interior de tamanhos diversos.

Dia 1:

(pontos 1, 2, 3, 4 e 5 no mapa)

A saída de Lisboa foi feita a solo pois tínhamos de deixar os filhos em casa dos avós maternos. Aqui fui mais ligeiro, sem pendura e peso adicional do saco do depósito, pois o resto seguia de carro. Saí do deserto via Ponte Vasco da Gama em direcção à A1 seguindo pela estrada nacional IC2/N1 até Alcobaça. Depois de almoçar e despedir da pequenada, deu-se início à viagem com os seus intervenientes.

Mantendo o que inicialmente pensámos como percurso, seguimos sempre pelo litoral oeste até à Figueira da foz (IC1). Nem sempre a ver a costa, mas foi agradável como ponto de partida. As estradas, até aqui, nada de especial: são as estradas e alcatrão português como bem conhecemos. Na Figueira fizemos o nosso 1º “pit-stop” - esplanada e solzinho acompanhado de geladinho.

Apesar de apenas termos começado, qualquer transeunte já olha para nós como alienígenas, vindos de outro espaço. Ainda que o motociclista já faça parte da nossa cultura, não sendo já algo que se via exclusivamente nos ingleses e alemães, nas suas BMW R100 e fatos de cabedal pretos a fazer as suas migrações a sul da Europa, ainda existe um misto de curiosidade e até de uma certa inveja, pelos conceitos de irreverência e liberdade associados à cultura motard (esses malucos das motas).

Por imposição da gula e por rumarmos a norte pela N-109 em direcção a Mira, Ílhavo, a paragem seguinte é Aveiro para satisfação feminina com ovos moles e uma caixa de “10” ainda soube a pouco. E foi com muita sorte pois, entrámos na pastelaria já passavam das 19.30h e estava a fechar. Umas fotos de registo do momento de regalo e fomos, não por estrada nacional como pensado inicialmente, mas directos ao Porto/Gaia pela A1.

Como não queríamos perder muito tempo e dado o Porto ser apenas um ponto de dormida para o dia seguinte, ficámos no Park Hotel em Gaia (uma espécie de “clone” de Íbis) http://www.parkhotel.pt/nm_quemsomos.php?id=122
Impecável, sem grandes luxos, mas perfeito! Dormida da mota em garagem e grátis e internet wi-fi. O jantar foi no Burguer King, ao lado do hotel.Surpreendentemente, foi a 1ª vez que gostei de Burguer King já que das anteriores nunca gostei tanto do hambúrguer, nem do pão que mais parecia ter 2 ou 3 dias e das batatas à espera há horas. Comi tudo acabadinho de fazer (fominha, e não era pouca!). Também existe uma bomba de gasolina BP logo ao lado, pelo que o dia seguinte foi muito mais fácil à partida com tudo à porta.

A reter neste percurso: Nazaré e Ílhavo
Percurso a fazer e não fizemos devido a “logística familiar” – N8 de Torres Vedras ao Bombarral.

Obrigado aos Telepizza Boys de VNGaia.. ;)

fLUNX

O arranque

“- Porta-te bem, filho! Tu, filha, juízo! E divirtam-se!”
A logística inerente à entrega dos meninos aos avós atrasou o início desta aventura a dois. Mas logo nos primeiros quilómetros e paragens, o desejo de que eles estivessem in loco e in momentum a viver os mesmos instantes, a apreciar as variadas paisagens e a descobrirem pequenas curiosidades de sítios e coisas, emerge no meu pensamento a um ritmo frequente. Por isso, estes relatos são para eles, as memórias desta aventura partilho-as desta forma, esperando que um dia possam eventualmente vivenciar este percurso e tentarem ver e sentir o que vamos registando.

Saímos de Alcobaça já tarde e seguimos pelas estradas nacionais da costa oeste rumo à Figueira da Foz. Confesso que não vislumbrei qualquer paisagem embevecedora. Talvez porque reconheço com naturalidade o perfume dos pinheiros e eucaliptos. Talvez porque estas imagens me são familiares, foram o cenário da minha infância e juventude. Talvez porque simplesmente não são diferentes ou desconhecidas.

Já a Figueira da Foz, julgo ter lá estado uma única vez, num dia longínquo, solarento e frio de Inverno ou seja, quando lá cheguei hoje, não a reconheci. Mas a caminho, não me saíam do pensamento umas certas miúdas que conheço que passam lá a vida.

Espantou-me a imensidão de areal que se estende até tão longe. Da marginal não se percebe onde é o seu encontro com o mar. A praia vai, no entanto, estreitando, e chegamos ao final da avenida com a sensação que passámos não por uma, mas por diversas praias. Do imenso areal com passadiço de madeira até não vemos onde, até à pequena praia com dunas de pedras, há uma diversidade de características que se vão alterando. Decidimos esticar as pernas e beber algo fresco numa esplanada que também nos serviu o sol de final de tarde. Escusado será dizer que aqui a praia fecha entre as 5h e 6h da tarde, ou não estivéssemos mais a norte. As nuvens começaram aos poucos a envolver o céu, trazidas pelo vento já bem frio e rebelde e quando partimos já pairava uma luminosidade cinzenta e um arzinho húmido.

Rumámos a Aveiro. Eu já esfregava as mãos e chegava ao céu só de pensar. Pois que me deliciei com uma caixa de ovos moles em hóstia que, nem consagrada, me absolveria de tamanho pecado. A gula foi tal que nem jantei. A culpa foi tal que a imagem de 900 calorias cimentadas no meu “pneu”, me enjoava. Não, os ovos moles não enjoam nem enchem barriga, a mim não! Mas valeu a pena. E o cenário condizia, com os moliceiros atracados à beira ria, exibindo as suas pinturas cheias de cor e bandeirinhas.

Estava a ficar tarde e ainda que tenhamos planeado chegar a Valença no final do dia, tal não se concretizou. O nevoeiro tomava, aos poucos, conta dos arredores do Porto e decidimos parar. Estamos no Park Hotel, em Gaia. Encontrar-nos com uns amigos que moram no Porto, foi uma ideia, mas que logo pusémos de parte, porque estamos mesmo a precisar é de um bom descanso. Amanhã vai ser um esticão...

Xacobeo 2010

(pontos 6, 7, 8, e 9 no mapa)

Um acordar em plena VCI, e com trânsito, ou não fosse uma 2ª feira.
YES!!! Estamos de férias, esquece lá isso do trânsito. A pé e de pequeno almoço tomado, check out, botão mágico e lá estava a S3 prontinha para ir a bomba e seguir viagem.

Saímos cerca das 10h30 em direcção à N13 Vila do Conde/Póvoa do Varzim para iniciar o percurso pela costa norte até Caminha. Chegando à Póvoa deparámo-nos com um solinho e ambiente de praia, em plena Av. dos Banhos onde almoçámos em ambiente de relax à beira da praia, quase em cima do areal. Que bem que se estava, apesar de notória a diferença entre as praias nortenhas e as sulistas. Aqui, literalmente, as praias "encerram” às 17h, e as águas são mais fresquinhas.

Terras planas quase lembrando a Holanda, aqui também se via muita bicicleta a circular. Passámos por Ofir, Esposende, etc… etc… indo pela N13 até Viana do Castelo, onde não resistimos a parar na Basílica de Santa Luzia, para apreciar a vista e conhecer o santuário.

Na súbida até Sta. Luzia, a estrada é feita num empedrado polido no qual temos mesmo que andar devagar para não apanhar sustos. Pior seria se fosse a subir com o piso molhado. Lá em cima, a vista é deslumbrante sobre Viana, de uma ponta a outra. Ainda fomos brindados com a passagem de um potro e uma égua (ver foto no slide show) que, apesar de sozinhos, pareciam saber muito bem o seu caminho.

Continuando pela N13 até Caminha, é engraçado ver que os campos de cultivo vão até ao mar e somos ladeados por mar à nossa esquerda e montanha à direita. Não pude deixar de reparar que, nesta zona minhota, os cemitérios têm jazigos que são autênticos castelos opulentos onde "o meu tem que ser maior que o do meu último vizinho".

Chegámos a Valença, o nosso último destino em que se fala português. A partir daqui a nossa aventura passará por hablar com nuestros hermanos. Com alguma dificuldade, achámos a entrada de veículos no forte, conseguindo assim entrar com a mota e poder tomar qualquer coisa nesta pequena pausa e tirar as fotografias da praxe. No Forte, além da vista do que nos espera de futuro, temos restaurantes, casas de souvenirs, vinhos, trapos e até julgo ter passado por uma loja chinesa.

Espanha “llegamos”!!! A próxima estrada levar-nos-á até Santiago de Compostela. A N-550 é também conhecida por ser umas das estradas que acompanham os caminhos de Santiago vindos de Portugal.

Nada de motas... estranho.. mas deve ser porque a romaria vai para sul e não para norte como nós. No próximo fim de semana é a concentração de Faro e como tal 0 motas a acompanhar-nos neste pequeno passeio. Muito caminhante e ciclista a fazer os caminhos de Santiago a caminho do Xacobeo 2010. Estes sim, coragem que "só falta um bocadinho assim"!

Rumámos para Pontevedra, com passagem pela Ria de Vigo a contrabalançar o que já se sentia: as montanhas e suas estradas e curvas e curvas, um espectáculo, onde a S3 se sente completamente em casa (isto das “muscle naked”, esqueçam os motogp e velocidades supersónicas, o que está a dar é binário e bailar ao sabor do alcatrão).

Paragem para atestar a bicha, e que bem que se está aqui. O líquido precioso é bem mais barato. Contrariamente a Portugal, aqui ainda se vêem carros porreiros a gasolina, a dieselização não é acentuada como em Portugal. 1Lt de Gasolina 95 custou €1,14.

A meia distância de Santiago, ali perto de Pontevedra, começou a chuviscar. Chuva, não estava nos planos e muito menos estávamos preparados para essa eventualidade. Isto de viajar de mota e na mota em questão, ligeireza é a palavra de ordem. Por isso 0 equipamento Goretex ou Cordura para além do blusão. Envolvemos as bagagens com os sacos de protecção respectivos e lá seguimos, esperançosos que não iria durar muito.

Chegámos a uma vilazinha chamada Padrón em que se vêem, à beira de estrada, umas bancas com umas senhoras com uns saquinhos com algo verde lá dentro. Mas que raio era aquilo?! Caramelos?! Até que num semáforo parámos bem perto de uma banqueta, investigámos, e o que era?!...
Pimentos, e fez se luz! Pimentos de Padrón, sim, aqueles que são uma lotaria - ora tudo ok, ora uma bomba. Pois é, mas não era nem uma nem duas bancas de estrada, eram lojas, era tudo… Uma especialidade local bem explorada pelos residentes.

A chuva, em formato molha parvos, não molha, mas molha, e bem! Quando estamos longe do destino e somos forçados a uma marcha lenta para não estragarmos as férias por causa de eventual deslize .

Santiago de Compostela, chegamos! Xacobeo 2010 (http://www.xacobeo.es/ )em força. Mas o que raio é Xacobeo?
Tem pecados por perdoar em 2010? Espanha tem a solução. Tem apenas de realizar o Caminho de Santiago no ano que é Xacobeo! E o que é isso? São todos os anos em que 25 de Julho (Dia do Apóstolo Santiago) calha a um domingo. Esta comemoração ocorre desde a Idade Média e foi estabelecida por uma Bula Papal. Toca a aproveitar, porque o próximo Xacobeo será só em 2.021 (daqui a 11 anos).

A chuvinha que não pára!!! Irra, que tromento! Eu molhado, Carla molhada e a “Bifa” também.
Onde ficar? Isto de andar sem reservas tem destas coisas: é bom, pois andamos decomprometidos com tempo e lugar, mas nestas horas e com a chuva, quem nos dera ter onde nos dirigir sem perder tempo. E já não era cedo. Já passavam das 19 horas (locais). O que veio à cabeça para uma rápida resolução - IBIS. Mas não há nada disso em Santiago. Andámos pelo centro da cidade a olhar para tabuletas amarelas que indicavam Hotéis e tudo 3, 4 e 5 estrelas, ui estamos feitos! Ehehehehhehe. Numa ruazinha qualquer de que não me recordo do nome, vejo um hotel de 1 estrela, assim típico, com bom ar, limpo, acabado de remodelar e pintar na fachada. Parámos e fui lá ver como era a dormida. Por dentro era moderno, limpo com um ar minimalista, gostei. Pergunto à senhora os preços - cerca de 50/60eur “doble” c/ desayuno. Perfeito!
- “E tem garagem?” (estou de mota)
- “Não.” (responde ela)
Pronto, tudo estragado, casa da partida novamente (para mim, a minha mota tem que ter sempre lugar, nem que seja no quarto ou na sala).
Questiono se, por acaso ela saberá de algum hotel que tenha garagem para a mota descansar ao que me responde que no centro será muito difícil devido aos edifícios serem antigos. Garagens, além do parque municipal não vai ser fácil (eh pah, isso é que não! - pensei eu). Até que a rapariga se lembra de um sítio ali um pouco mais à frente, para eu tentar.

Lá fomos a apanhar mais um pouco de chuvinha irritante e, uns 500m mais à frente, entrámos e vi uma cancela com um parqueamento mais a baixo.
Na recepção uma antipática recepcionista atendeu-nos e explicou que o único sitio possível para deixar a mota seria neste parqueamento (antes isto que no parque municipal, e grátis!). O único senão era a "dormida" ao relento e à chuva, coitada da Bifa, ia se constipar, eheheheheh.
Hostal La Salle (http://www.hostallasalle.com/), dormida ao mesmo preço mas sem pequeno almoço e tem wi-fi. Quero lá saber, já estávamos na fase do “ficamos em qualquer sitio”. O quarto não tinha nada de luxos, era um poiso para dormir e descansar com a vantagem de ter vista directa para mota. Tudo estendido e banhinho tomado, jantar. Onde? Descemos a rua mais um pouco em direcção ao centro de Santiago e vemos uma “bodeguilla” cheia de malta.
- "Eh pah!!! Aqui deve-se comer bem, tá cheio!”
Bodeguilla SanRoque (http://www.labodeguilladesanroque.com/), tipicamente espanhola e o ambiente era porreiro. Cheia de estrangeiros (franceses, italianos, ingleses, espanhóis, e outros tugas além de nós, também me pareceu). O petisco foi: pão, chouriço picante, ovos mexidos com cogumelos, tarte de legumes e uns croquetes à casa, muito bom. Saímos quase e rebolar pois as doses eram do cacete!

Agora o que ansiávamos era um ó-ó mesmo merecido. A Carla não aguentou e quis continuar a sua escrita da etapa de hoje. Eu ainda andei a ver umas coisas na net pelo telefone quando recebo um mail da Carla com assunto “Surpresa”. Era um blogue que ela tinha criado para nós registarmos esta nossa aventura até aos Picos de Europa.

Ao adormecer só tinha uma coisa em mente:
“Santiago dá la mazé um toque ao S.Pedro porque isto de viajar a 2 de mota com chuva não dá com nada e não irá motivar futuras aventuras semelhantes” (além do ai ai ai, a mota está la fora sozinha, ai os malandros que podem abusar da bifa durante o meu sono)

ZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz….

A reter neste percurso: N13 depois de Viana e N-550 (mesmo com chuvinha)

Entrada em Espanha

“- Oh Santiago, podias ter falado com Sanpedro!”

Fizémos os últimos 40 kms de hoje sob chuva molha tolos. Foi concerteza Santiago que, sabendo que viríamos, quis abençoar-nos, mas não havia necessidade. Só um banho quente e um jantar de tapas me restituiu o conforto para poder descrever a etapa de hoje.

Saímos de Gaia em direcção à Costa da Caparica dos portistas, baptizou desta forma o Flávio, a costa ocidental a norte do Porto. A paisagem, mais uma vez, não é esplendorosa. A não ser ter-me apercebido que muita maçaroca se produz por aqui, só me despertou a atenção verificar a mão destrutiva do homem sobre a natureza. Calma, não sou pragmática ao ponto de me opor ao desenvolvimento e à civilização. Sou apenas a favor do uso de maior tenacidade na interacção entre estes 2 mundos. A verdade é que ambas as realidades são necessárias para a sobrevivência do homem, mas parece que este se esquece inúmeras vezes que ao invés de arruinar ou destruir a paisagem natural, que fere os sentidos, porque não embeber o progresso neste meio, introduzindo as evoluções tecnológicas com subtileza?! A questão do gosto também pesa, claro, e o homem é exibicionista por natureza, tem que mostrar o fruto da sua criação. Enfim, numa região em que predominam parques industriais e a construção é desmedida, sem ordenação ou coerência, a paisagem é poluída. Senão vejamos um exemplo muito concreto desta nossa forma de interagir com o ambiente natural. Póvoa do Varzim é uma cidade costeira, com alguma imponência. O porto de abrigo faz lembrar o da Nazaré. A praia é imensa, orlada pela marginal, qual Copacabana movimentada: gente que faz o seu jogging, velhos que fazem o seu passeio matinal, acidentados que exercitam pernas engessadas, mães recentes que levam os seus bébés à rua, enfim, todos gozando o privilégio de poderem usufruir deste ar refrescante com cheiro a maresia. No entanto, metade do areal está ocupado com bares e restaurantes que retiram, de imediato, o mar do alcance da vista. Depois, além de cada destas barraquinhas ter música própria, ainda se ouve, em permanência, uma estação de rádio, através de altifalantes dispersos pela rua. Um absurdo! Mas quem é que teve esta infeliz ideia? O barulho do mar e os sons da praia, alguém não gosta?! Esta deve ser uma praia cosmopolita, concerteza, cheia de progresso, mas este nível de interferência já roça bem a falta de gosto e até de bom senso. Apesar disto, o natural é belo: o azul profundo da água do mar e a consistência da areia em tudo me lembraram a praia da Nazaré. O dia estava fantástico e o sol apetecível mas, a avaliar pela luminosidade e pela fresca brisa à 1h da tarde, esta praia deve fechar por volta das 5h.

A paisagem começa a mudar à medida que avançamos. O Minho é de facto riquíssimo em diversidade. Do lado esquerdo avistávamos o mar, de praias agora mais selvagens, e escoltadas, à direita, por montanhas. Chegados a Viana do Castelo, não resistimos a subir até Santa Luzia. A subida, em caracol, é agradável, pelo cheiro a giesta e outros verdes e pelo som do vento a assobiar. Até as casinhas pelo meio da encosta são pitorescas e bem enquadradas. Já quando alcançamos o topo, fiquei surpreendida ao ver uma égua com a sua cria que circulavam livremente por ali. De resto, chocou-me a vista porque se vê imensa daquela intervenção humana chamada mal necessário, assim como ver instalado naquela basílica um elevador todo modernaço e a escadaria para a cúpula, que se avista do exterior, protegida com uma vedação em vidro e metal, integrados numa arquitectura com elementos neo-românicos, bizantinos e góticos (deverei acrescentar na wikipédia um outro elemento, talvez o contemporâneo?!)

Continuámos a subir e a concluir que quanto mais natural, mais belo. Passámos por Vila Nova de Cerveira e fomos até Valença onde, dentro da fortaleza, parámos um pouco. Parecido com Óbidos, o conceito e a história, claro, já a construção é característica em cada caso. Também idêntica a comum exploração comercial.

Eis-nos, pois, em terras de nuestros hermanos, ressacando a vitória da sua selecção, ontem, no Mundial Fifa 2010.

Entre Pontevedra e Santiago de Compostela, passámos por Padrón. Este nome não me era estranho, até que, à beira da estrada, se vão vendo vários vendedores com suas pequenas bancas amontoando os afamados pimientos lotaria que eu tanto aprecio!

A hora local vai reduzir o nosso tempo de sono pelo que, amanhã será outro, esperamos que menos chuvoso, dia.

...até as Portas dos Picos.

(pontos 10, 11, 12, e 13 no mapa)

Xacobear aqui vamos nós!
O dia não está muito famoso, mas pelo menos já não está a chover, me parece do quarto, e a “bifa” não foi namoriscar nenhum D. Juan Galizeano. Casacos, luvas e calças sequinhas, ao menos isso. O material secou, ufa! Mas, como é cedo e o check out é ao meio dia, aproveitamos para deixar a tralha no “hostal” e irmos tomar o desayuno fora (não estava incluído e mesmo assim, pagando, não existia, pelo que, não havia outro remédio senão tomá-lo fora). De dia é fácil, basta seguir as manadas de peregrinos e turistas e estamos a caminho da Catedral. De pequeno almoço tomado, lá continuámos a nossa “Compostelana” de 1km ou 2 max (documento que certifica que se realizou a peregrinação, em que tem de se fazer 100 Km a pé, ou 200 Km de bicicleta ou cavalo). Quase ao chegar à praça central da Catedral, finalmente encontro uma loja com um mini-tripé para fazer umas fotos em condições sem perigo da máquina se armar em acrobata. Já SanPedro fez das suas novamente, ainda que a chuva fosse mais ligeira do que no dia anterior. Mas era perfeitamente suportável, até de manga curta, como eu estava. Deambulámos por ruas, travessas, arcadas, praças, balcões, enfim, pelo centro todo, em redor da Catedral. Haveria muito mais para ver, é um facto, mas o nosso destino era Picos de Europa e vaguear pelas estradas de montanha. Doces aqui do sítio eram: chocolate e "pedras" de amêndoa coberta de chocolate, doces de amêndoas, torrões de amêndoa, entre outros (estes pelo menos fomos provando à medida que íamos “lambendo” montras das lojas em busca de alguns souvenirs). Cultura Celta e Católica abraçam-se em Santiago. Muita joalheria prata e ónix, artefactos celtas, música, queijos tetilla (queijo teta - dá-me ideia que é por isso que as mulheres galicianas são generosas http://www.directoalpaladar.com/cultura-gastronomica/queixo-tetilla), cruzes de Santiago, etc. Regresso ao hotel para check out e, agora sim, Picos aqui vamos nós! (já não chove, qué guay!!!)

Direcção Aeroporto A54, sair para a N-547 e a cerca de 20km de Lugo entrar na N-540. A N-547 é uma estrada fabulosa, alcatroada há pouco tempo, eu diria mesmo, há menos de 6 meses. Aqui para o Down Hill e Pikes Peak, é uma loucura! A 2 desfruta-se de outra forma, ainda assim, muito muito bom. Em alguns troços dá para o “joelho no chão”, sem qualquer hesitação, para os mais furiosos e viajantes a solo. Dá vontade até de fazer o percurso novamente - Esquecermo-nos de algo em Santiago é uma boa desculpa!

Chegando a Lugo, como usualmente, seguimos para o centro da cidade/baixa histórica. Aqui levou-nos ao centro de lojas, que mais parecia a Rua de Santa Catarina no Porto. Parámos numa esplanadita que nos pareceu simpática e tinha uns menus simples para comer, antes de seguirmos para os Picos. A esplanada era agradável, mas o interior do café era numa cave de um prédio que mais parecia um cenário mexicano do filme “Desperado” (só faltou entrar o “Mariachi”). Tudo se passou na normalidade. Comida boa, uma salada russa que era uma loucura, como entrada/1º. E tinha um papel a servir de toalha de mesa com o mapa da região que tinha bastante informação, o qual me esqueci de trazer para digitalizar.

A 2ª parte do troço que nos volta a ligar a costa foi feita na N-640 é uma estrada igualmente boa no seu traçado. Neste dia, ou meio dia de viagem, não me posso queixar de dar o gostinho às laterais dos pneus. Passando o estuário do Rio Eo, Castropol é a vila que se segue ao chegar ao mar. Pelo caminho já se denota uma maresia, com a temperatura a baixar ligeiramente, esquecendo por completo a chuva de Santiago e assistindo à chegada do solzinho e céu limpo. Todas estas sensações são umas das grandes diferenças entre viajar de carro e de moto, neste caso, estamos em contacto directo com o meio, e não estamos fechados num casulo que nos protege de todos os agentes externos que é o que dá alguma graça a esta experiência (excepto chuva, odeio chuva!).

Esta zona é toda muito sinuosa, com pequenos vales, onde entre auto-estrada e estradas nacionais e secundárias, a mistura uma verdadeira confusão. Oviedo era o nosso destino, fosse qual fosse a estrada. Tentei ir, no máximo, em nacionais como a N-634 e N-632, mas elas fundiam-se com a E70 e, no final desisti destas transições e fiz os últimos 30 a 50Km na AE, pois as pontes que atravessavam os vales são muito mais rápidas do que fazer a estradinha serpenteada que já nem nacional era (teve de ser).

Agora já cheirava a Picos. Estávamos a 70km de Cangas de Onis e é a N-634 que nos leva ao destino. Este troço tem um pormenor que adorei e já não me recordava das viagens que fiz anteriormente de carro. Acompanhamos, em paralelo, uma linha pequena de comboio, de uma só via. Passámos Nava, Piloña e Arriondas e ao longo do Rio Sella vêem-se imensos negócios de descidas de rio em kayak.

Já estamos mesmo à chegada de Cangas. 5 ou 6 km separam-nos do nosso final de viagem de hoje. A história repete-se: onde ficar e com garagem para a S3. Depois de uma voltinha só de reconhecimento da vila, decidimos que teríamos que ficar no centro e desfrutar de toda aquela movimentada vila de Cangas. Motoqueiros em viagem para o mesmo destino que nós, continuamos a ver “0”, ou então, temos um horário diferente do resto do pessoal. Tugas em motas também nada, nem parados nem a andar.

Cangas de Onís é a porta de entrada do Parque Natural dos Picos de Europa. Hotéis, restaurantes, sidrerias, lojas de souvenirs, bares, cafés, era o que não faltava. Direitinhos ao Posto de Turismo, fomos ver se havia hotéis no centro da vila com garagem. E de 50, havia 3, uns de muitas estrelas e, por último, o mais simpático, de 3 estrelas, foi o Hotel Aguia Real (http://www.hotelesaguilareal.com/) o que para um Benfiquista, já quase me sentia em casa. O parque para a mota foi 9eur e o quarto duplo 60€, com pequeno almoço. Adjudicado! Descarregar as bagagens, subir ao quarto e banhoca com um descansinho antes de jantar. A maior vantagem de ficar no centro da vila é não ter que pegar mais na mota. Percorremos a vila de uma ponta à outra e a fauna aqui era outra. Os peregrinos foram substituídos por exploradores e aventureiros. Praças centrais, esplanadas, tudo cheio! O que é bom sinal. Jantámos numa sidreria como não podia deixar de ser. Sidra é a bebida local cuja degustação requer todo um ritual denominado de “escanciado”, que consiste em verter o líquido a uma altura considerável para um copo especial (alto e largo), para que a bebida supostamente adquira força e sabor (vinho branco a martelo lhe chamou a Carla) e deve ser bebido na hora em jeito de “penalti” (é para a touca ser maior).

Hoje em dia já servem Sidra Natural especial para ser servida à mesa (sumo de maçã fermentado, bebida alcoólica de 7 ou 8º). Não tivémos direito ao ritual mas a um "servidor automático” de mesa. Como a bebida não foi lá muito ou mesmo nada apreciada pela Carla, fui bebendo a ritmo calmo, mas não me safei de uma “touca em progressão”. Pós o jantar fomos desmoer e eu, passear a “Lassie”, ainda que “cachorinha”. A ponte romana foi o ponto de honra e única visita do dia. Ainda havia animação pelas ruas e até um cinema ao ar livre numa das praças da vila, a projectar uma animação para as crianças. Comemos um gelado no regresso ao hotel, em que o sabor escolhido pela Carla foi “Crema Catalana” que, segundo ela, terá sido “O melhor gelado que comeu na vida”.

A reter neste percurso: N-547 para Lugo e depois a N-634 de Oviedo a Arriondas

Criada a expectativa

Ontem à noite estava de tal forma exausta que não consegui escrever uma palavra.

Simplesmente aterrei. Com tanta coisa registada, vamos ver se consigo trazer à memória o dia de ontem para poder descrevê-lo.

A manhã em Santiago de Compostela acordou cinzenta e a ameaçar chuva. E choveu. Ainda por cima, o “hostal” onde pernoitámos não servia pequenos almoços o que me irritou profundamente. O cafezinho da manhã tem que ser mesmo ao levantar, mas tivémos que ir fora.

Fizemos, a pé, o reconhecimento à cidade, não como peregrinos, mas como turistas e lá fomos tirar umas fotos junto da catedral. Ainda bem que não tinha como objectivo o culto, pois teria sido difícil encontrar a porta por onde é permitida a entrada para a igreja. Se à missa quisesse ir, teria concerteza chegado durante a homilia. Mas vivo outros tempos, pelo que hoje atraem-me as tradições pagãs. Lá passámos pelas montras cheias de bijuteria e prata de simbologia celta; os queijos teta que são verdadeiramente sugestivos e um hábito hospitaleiro das boutiques de guloseimas tradicionais que, claro, adorei: todas têm à porta umas meninas muito simpáticas a oferecer para degustação as pedras de santiago, a tarte de santiago e outras tantas iguarias feitas de amêndoa que são uma verdadeira tentação. De bandulho cheio de tanta prova, ainda por cima, tendo gasto pouco mais de 4€, pusémo-nos à estrada, ainda sob chuva.

O caminho até Lugo começa a aguçar o apetite; já se vêem campos verdes a perder de vista com muitas vaquinhas brancas e pretas a pastar, quais Alpes suíços sugeridos nos anúncios ao chocolate Milka. Muito leite deve ser produzido por aqui. Cruzamo-nos com imensos peregrinos que fazem a pé o caminho de Santiago bem como outros de bicicleta. Estes não dei por isso, registo-o porque o Flávio relatou tendo ficado incrédulo por eu não os ter visto. Confesso que muitas vezes o meu olhar é obrigado a fixar-se na paisagem mais longínqua, quanto menos olhar para a estrada, mais relaxada me sinto. É que isto de andar de mota, à pendura e sem experiência, tantos quilómetros e por vezes não tão devagar assim, não é de um dia para o outro que se consegue moderar algum nervoso miudinho.

De Lugo a Castropol, o Flávio fez o gosto ao dedo e eu ao olhar. Julgo ter sido até agora, a estrada que mais gozo deu conduzir que, além de parecer nova porque em bom estado, as curvas e contracurvas permitiam uma velocidade razoável. Pelo meu lado, deliciei-me a apreciar a magnífica paisagem que ia criando a expectativa para o dia seguinte nos Picos da Europa. Se aqui era deslumbrante, nos Picos haveria de ser o céu. Claro que só comecei a descontrair a meio, os meus olhos afundavam naqueles vales estreitos quando a mota curvava à direita, a adrenalina transformou o receio em tensão, que passou a inconsciente, pela inebriação de toda aquela beleza em redor.

Depois, viajámos quilómetros, ora pela costa, vislumbrando praias por entre montanhas, ora pela autoestrada para tentarmos chegar ainda neste dia a Cangas de Onis, no sopé dos Picos. Não sabia o que era um rabo quadrado. Como é que as minhas formas redondas e cheias me permitem sentir estas arestas? Pois é, o que vale uns minutinhos de pé e tudo volta ao lugar. As pernas também, que tomam, no lugar de pendura, a forma angular e de tal forma que, sempre que saio da mota, sinto-as ranger e rezo para que não fraquejem e me segurem o tronco.

Cangas de Onis é uma vilazinha de montanha. As casinhas são do mais rústico que há, pintadas com a paleta mais rica de tons vivos a contrastar com pedra e madeira típicas e adornadas por sardinheiras e amores-perfeitos igualmente coloridas. As ruas são bem animadas e há uma sidreria em cada esquina. Explicou-me o Flávio que a sidra era uma bebida típica semelhante ao espumante. Quando a provei, ia cuspindo. Aquilo é vinho branco a martelo, gaseificado. Só o gás lembra o espumante, porque o sabor, achei intragável! Regalei-me, mais tarde, com um gelado de sabor a "crema catalana" - meus amigos, julgo ter sido o melhor gelado que até hoje comi!

Picos até que enfim ! ! !

(pontos 13, 14, 15, e 16 no mapa)

Depois de ter ficado siderado, e sempre com receio de mau tempo ou até mesmo chuva como em Santiago, lá acordámos já com algum cansaço acumulado dos passados 3 dias de viagem que, apesar de terem sido apenas 3, já parecia que estávamos há semanas nisto. Não digo isto em tom depreciativo mas sim pela ideia de não pararmos muito tempo no mesmo sítio.

Olhei pela janela e... BOA! Está seco e um solzinho apenas com algumas nuvens lá no alto. Já de pequeno-almoço tomado e a mota “ready to travel”, siga para os Lagos e Santuário de Covadonga como 1ª étapa do dia. Vai ser na boa, pois a proximidade de Cangas é muita.


Finalmente lá transpusemos a porta dos Picos de Europa. Nada que enganar, qualquer placa é explícita e não deixa possibilidade de falhar o destino, mesmo sem mapa ou GPS, é sempre em frente (“sempre em frente” não é bem o caso, pois não há troço de estrada com recta superior a 200 metros). Subir, subir, curva, curva. O cenário revela-se grandioso e neste momento a Carla vence o medo de largar a pega do passageiro e pede-me a máquina fotográfica para ir registando, em movimento, alguns momentos e vistas com que nos deparávamos.

Chegámos a Santa Cueva, uma capela junto à estrada em direcção ao santuário. A capela é construida no alto de uma rocha alcançável por uma escadaria e ladeada por uma queda de água com vista privilegiada para o santuário de Covadonga, como que em antevisão ou espécie de antecâmara da basílica (se se pode assim chamar).
http://www.santuariodecovadonga.com/subnivel2/vicueva.htm


500m mais acima chegámos ao Santuário, uma basílica de estilo neo-românico de pedra rosa e mármores extraídos ali das montanhas de Covadonga. Tirando alguns Bus repletos de turistas e a musiquinha dentro da Basilica (um cântico completamente desapropriado para quem, julgo eu, quisesse orar em paz). A envolvência era uma imensidão de verde tranquilizador. Também por lá estava uma estátua do príncipe visigodo Pelayo (espécie de D. Afonso Henriques de nuestros hermanos) a saudar-nos as boas vindas.

No regresso para baixo, desviámos para os Lagos (Enol e Ercina). A descida foi de pouca dura pois agora era sempre a subir e escoltados por vacas e cabras selvagens do Parque Natural de Picos de Europa. A temperatura a descer, as nuvens também, ou então éramos nós que estávamos a ir ao encontro delas.

De repente temos fila de trânsito... Estranho! Era então um cão pastor a levar seu rebanho de ovelhas e cabras a pastar. Pastor nada, o cão dominava por completo. O nevoeiro começa a tomar conta da estrada e à chegada aos Lagos, nada vimos além de um manto branco.

Ficámos, literalmente, à entrada, no início da gravilha e estrada de terra batida que nos leva aos lagos e suas vaquinhas a pastar. Eu acredito que tudo lá estivesse, mas não deu para ver, fica para uma próxima incursão aos Picos. A descer, o ritmo ficou mais ligeiro, até porque o alcatrão tinha minas e armadilhas. Bosta de vaca “sagrada” do sítio. Caso para dizer que a descer até as vacas se borravam todas. A meio paramos no Mirador de la Reina, mais um ponto de apreciar a vista a mais de 180º e 20km de distância, Só lá estando, não há lente que consiga captar e mostrar este quadro.

De volta a Cangas, um último olhar sobre a ponte romana e um adeus. Rumámos a Riaño pela N-625. Que bela estrada, 60km de pura diversão. Ideal seria fazê-la sozinho e sem malas, mas talvez tenha sido melhor assim, pois poderia ter dado vontade de cometer alguns excessos (não de velocidade, pois essa não dava, mas de condução espirituosa).

60km que noutras situações seriam feitos em 30min, aqui nem 1hora e meia chegou para me levar ao destino. Mas que estrada! Desfiladeiros e rochas a pique era o cenário (será que não me esqueci de nada no Hotel para ter que voltar atrás e refazer o caminho ? Se tivesse de o fazer, não seria divertido, pois a exigência do traçado era muita e a dois e com bagagem não foi fácil, mas foi bem porreiro!).

Novamente impossível falhar os destinos, está tudo bem indicado. Passámos o Desfiladero de los Beyos http://es.wikipedia.org/wiki/Desfiladero_de_Los_Beyos. O tempo, deste lado dos Picos, estava melhor, a temperatura aumentou e o céu limpou por completo. Que estrada, que vistas, não parecia ter fim, ao contrário da gasolina que, confesso, senti algum receio de ficar apeado, pois neste tipo de trajecto a autonomia reduz brutalmente e postos de abastecimentos nem vê-los. Não há curva igual, rectas, nem uma, uma sequência sem fim de curva e contracurva, esquerda, direita, esquerda direita. Uma Loucura!

Depois de tanto tempo a curvar, num simples virar de esquina somos brindados com uma vista lindíssima que é a chegada a Riaño, qualquer ponto de paragem permite uma foto digna de postal.
Riaño foi a nossa paragem para almoço e abastecimento da mota. Localidade com um enquadramento espectacular mas com um ar de vila fantasma, ao mesmo tempo. É muito estranho. Existe um banco, 2 ou 3 restaurantes, hotel, 2 cafés, um posto de abastecimento, centro náutico, um pavilhão desportivo, parque de campismo, umas linhas de prédios novos. Mas acabo por entender: Riaño original foi submersa nos anos 80 devido à construção de uma barragem e em consequência, uma nova Vila se ergueu.

Ao estacionar a mota vimos que havia 2 Triumph (América e Rocket III) originais, bifas genuínas, até na matricula, ao lado uma família de holandeses que viajava em 3 motas. Pai numa BMW RT com a filha (15 anos), a mãe numa F650GS e filho mais velho em CBR 900. Numa breve conversa soubémos que as férias deles eram a passear até Espanha (muito à frente!!!!).

Agora, destino Potes pela N-621, a contornar mais um pouco dos Picos já mais em direcção à costa, novamente. A saída de Riaño é uma estrada chata com pouca manutenção (tenho estado mal habituado nesta viagem pois Espanha faz manutenção das suas estradas nacionais e, mesmo as secundárias, como ninguém ou direi mesmo como não acontece em Portugal (eu não queria, mas é a verdade). Neste capítulo tenho sido presenteado com estradas quase a estrear e de alcatrão excelente.


Começámos a descer para Potes e parámos num miradorouro de que não me recordo o nome, mas que tinha um estátua de uma cerva (a mãe do Bambi imortalizada lá no sítio) e mais uma vez uma vista até perdê-la.
Curva, curva… descer, descer... Nunca fiquei sem travões. Usar o travão motor nestas situações é primordial, sobretudo a dois e com carga. A Carla não achava muita piada a curvas à esquerda com o penhasco a seu lado e também não enjoou. Tranquilo, no problems, temos pendura a séria!
Em Potes considerámos a ida a Fuente Dé, mas o desvio, custo e tempo fizeram com que também esta paragem ficasse para uma outra vinda aos Picos.

Continuámos pela N-621, que nos levou até à costa em Unquera. Estas estradas nacionais são de facto um mimo. Agora já não temos apenas curvas, mas mesmo assim uma delícia.
A temperatura, já mais amena, e um cheirinho a maresia no ar certifica-nos que o mar está bem próximo.
Voltámos ao encontro de uma já nossa conhecida, a N-634, até San Vicente de la Barquera. Vila piscatória onde parámos para um cafezinho numa esplanada e para descansar um pouco, pois o nosso dia, apesar de poucos kms percorridos, tinha sido o de maior estafa.


Seguimos pela “marginal” (N-634) até que, antes que ela nos levasse para o interior, virámos à esquerda para a CA-131 até Comillas. Ficámos de boca aberta, Comillas deve ser das vilas do litoral mais conhecidas aqui da Cantábria banhada pelo oceano, totalmente virada para o turismo de veraneio, mas já de longa data. Uma “Vila de Cascais” aqui da zona. Destino de praia de gente rica desde o início do século passado, de certeza pois as casas, casarões, mansões enormes são de uma arquitectura pitoresca apalaçada e super bem mantidas. Aqui, o cemitério é um dos ex-líbris com o seu anjo a proteger os seus habitantes.
Chegando ao centro, a animação é grande, um ambiente de sempre em festa. Ponderámos logo passar aqui a noite, mas ainda tínhamos a vila de Santillana del Mar por ver, que era já ali ao lado.

Ficamos ou seguimos? Seguimos, mas com o pensamento de que, se não achássemos a próxima paragem interessante, voltaríamos para trás.
CA-131 até Santillana del Mar, apesar de ter mar no nome, nem vê-lo.

Para finalizar o dia, acho que melhor paragem não poderia ser. É, de certeza, uma das localidades de maior valor histórico de Espanha, autêntico tesouro arquitectónico românico, uma vila totalmente virada para o Turismo, parada no tempo. Carros, só para carga e descarga de material. Museus, Igrejas, restaurantes e lojinhas, todas muito bem integradas.

Novamente, a saga do Hotel: onde ficar e com a “miúda” abrigada? A nossa escolha recaiu sobre o Hotel Los Infantes (65eur com pequeno almoço e mota abrigada inc.) http://www.hotel-santillana.com/hotel_los_infantes. Depois da descarga e entrada no hotel, um banhinho revigorante e estávamos prontinhos para um passeio pela vila já com mais calma e decidir onde iríamos jantar.

Adorámos o Museu do Barquillero com a exposição de brinquedos e jogos tradicionais http://www.flickr.com/photos/lumiago/sets/72157608793795715/. Lojas com iguarias tradicionais, era só escolher o que comprar: o chouriço, “fabadas” (feijão grande), chocolates artesanais com os mais diversos sabores. Sem a menor dúvida, uma paragem obrigatória!

Amanhã, a grande indecisão: seguimos até SanSebastian / Biarritz e descemos por Pamplona até ao último dia das festas de San Firmin ou começamos já a descer sobre Madrid para um início de regresso a casa? Grande dilema, a noite será conselheira.

A reter neste percurso: O melhor dia de estrada do passeio… não há reparo ou escolha. É de uma ponta a outra.

Êxtase!

A expectativa para o dia de hoje estava bem no alto. Vivê-lo superou-a largamente. Depois de uma breve visita a Nossa Sra. de Covadonga, começámos a subir os Picos. A viagem até lá cima embriaga todos os sentidos. De tal forma que ganhei coragem, até aqui não encontrada, e agarrei na máquina fotográfica na mão direita. Era lindo demais, para não se registar. A temperatura ia descendo e o vento frio ia gelando a minha mão descoberta; o sol reflectia na encosta de uma montanha bem lá no fundo; as montanhas que subíamos estavam repletas de bois e vacas a pastar que nos ignoravam completamente; a estrada ficou subitamente interditada por um rebanho, guiado por um cão amoroso. E que obedientes eram aquelas ovelhas!; chegámos à zona dos lagos e a mãe natureza não quis mostrá-los: o nevoeiro instalado não nos permitiu sequer vislumbrá-los. Parámos, ao descer, no Mirador de la Reina. Aqui, o ar é pesado de puro e o silêncio soa aos badalos dos animais dispersos pelas encostas. Soberbo!

Continuámos a descer para voltar a Cangas de Onis e subir os Picos pelo lado oposto. Foi mais de uma hora de viagem, em estrada serpenteada por entre escarpas, vales e montanhas entrecortados por rios e ribeiros, envoltos num silêncio de ouro apenas perturbado pelo eco do barulho da mota. Só faltou mesmo esta ser ecológica, porque tudo o resto parecia a deambulação por um sonho. Viajar de mota tem a vantagem de estarmos no exterior e tudo em redor gera emoções: as diferenças de temperatura que vamos sentido, ora mais fresco, ora mais calorzinho; os cheiros: uns matam, como em alguns locais onde abundam vacas, outros denunciam presenças de verde ou de mar; até olhar a paisagem é diferente, as imagens passam como em 3D e se olharmos para cima, de vez em quando vemos uma ave de rapina a planar em busca de alimento; a imponência da montanha reduz-nos à pequenez que humildemente assumimos e de bom grado aceitamos.

Uma forte dor de cabeça instalou-se-me, na descida do desfiladeiro de Beyos mas ainda assim me embeveci quando nos deparámos com um leito imenso, um lençol de água azul, um espelho de água a envolver a vila de Riaño, onde almoçámos, sob um sol e um calor de que já sentíamos saudades.
Depois de uma “hamburguesa” do mais caseiro que comemos, seguimos até à costa norte, passando por San Vincente de la Barquera, uma pequena e simpática vila piscatória, depois por Comillas onde tirámos umas fotos na praia (o final da tarde estava carregadíssimo, parecia que ia chover, mas havia gente na praia e no banho e crianças a brincar, enfim: “se viémos para a praia, então nem que chova, vamos estar na praia!”). O centro desta vila era tão pitoresco e tão cheio de vida que me deu vontade de ficar por aqui esta noite, mas ainda bem que continuámos até à última localidade antes de iniciarmos a o regresso. Santillana del Mar, mar nem vê-lo, só mesmo no nome. Os Celtas andaram por aqui, de tal forma está preservada esta vila, que parece que ainda cá moram. Visitámos o Museu do Brinquedo local, que nos fez viajar no tempo. Aqui é o mundo da bijuteria que alude à simbologia daquele povo e do chocolate preparado de forma artesanal. É também engraçado ver kits de “fabada” à venda. Não, não é favada, é feijoada! Esta zona é também produtora de feijão branco (em Cangas de Onis já se lia “fabada casera” nas ementas, como entrada) e, a avaliar pelo preço, deve ser o marisco cá da terra. Como tal, empacotam uns gramas desta leguminosa em embalagens de ar comprimido, juntamente com uns “enchidos e embutidos” transformando assim este sugestivo kit num presente original.

"Quero comer sopa, só quero mesmo uma sopinhaaaa...!" É que não houve ainda refeição em que não tenha comido batatas fritas, com carne porque peixe só merluza (e comi só uma vez, para desenjoar) ou ovos: fritos, revueltos ou em tortilha, muitos ovos come esta gente!) Sinto o meu corpo intoxicado. E não é que onde jantámos hoje, havia uma entradazinha de legumes?! Não, não era sopa, ou melhor, eram os legumes todos cozidos, sem água, num prato de sopa, não muito atraente, mas soube-me tão bem! E para sobremesa, um "arroz con leche", muito próximo do nosso arrozinho doce, que estava uma maravilha.

O malfadado regresso = fim de férias

(pontos 17 e 18 no mapa)

Após conselho e discussão dos prós e contras, decidimos não ir até Biarritz e Pamplona. O receio de não chegar a casa no sábado, no máximo ao final da tarde era uma realidade. Hoje é 5ª feira e, ao ritmo que temos andado - cerca de 350Km de média diária - e uma distância ainda por percorrer fez-nos apontar, ou direi melhor, encurtar a volta pensada inicialmente. Como o objectivo principal era os Picos de Europa, já estávamos satisfeitos, mas já que ali estávamos, ir mais além era o nosso desejo.




Como só tínhamos de deixar o quarto ao meio dia, aproveitamos a manhã para os regallos para a família e amigos. Decidimos comprar chocolate para todos. (brillhante ideia, como iremos comprovar mais a frente durante a viagem…) uma t-shirtzita para a nossa Ratazana (João – 3 anos) http://www.kukuxumusu.com/index.php/es/tienda-online/colecciones-especiales/montana/Desfiladero-DC0RLWG7350 e uma pulseira com estrelas celta para a Maria (14 anos). Uma sessão foto pela vila aproveitando a luz e pouca passagem de turistas.

De partida continuamos pela CA-131 direcção Torrelavega e N-623 é a nossa companhia seguinte até Burgos. Agora já totalmente desabituados de estradas com rectas, acabamos por estranhar apesar do passeio ser bem agradável, a temperatura é boa, mas já se nota que caminhamos para o interior de Espanha com os seu calor e necessidade de procura de água, sombra e se possível siesta (esta última nunca foi possível por em prática).

Nesta fase todos os destinos de passagem intermédios são de alcance rápido, é tudo 60km um dos outros, a viagem parece nos rápida, também não fosse o não termos nada programado “pós-Picos” de interesse no regresso. A ideia era mesmo a costa norte de Espanha e regressar.
Depois de Burgos apanhamos a N-234 que nos leva a Soria, mas decidimos cortar um pouco caminho por uma estrada secundária (SO-910) que atravessaria uma linha montanha que estávamos a contornar, pouparíamos assim cerca de 50 a 60km, não indo a Soria que nos ligaria a nossa próxima estrada N-122 para seguirmos para Segóvia. Em San Esteban de Gormaz ligamos a N-110 e agora sim em “frente” para Segóvia a nossa próxima paragem/dormida.
O calor depois de almoço já se tornava insuportável, só em andamento é que ainda dava para estar.

Qualquer paragem é a torreira. Neste momento estamos numa estrada em paralelo de cerca de 60/80km salvo erro com a A1-E5 que liga Burgos a Madrid. Para quem já fez viagens vindo de França/Bordéus/Biarritz deve conhecer. Como não queríamos fazer Auto Estrada e ir conhecendo Espanha vila a vila e pararmos onde achássemos interessante, foi o que fizemos.
Em ambas as situações no final o destino seria Badajoz. Aqui as estradas já não tem muita piada, sobretudo ficamos muito mal habituados. Não é um risco a direito como na autoestrada, mas as rectas são já algumas e as curvas mal se notam, sobretudo quando a velocidade máxima ronda os 150km/h e de cruzeiro os 120. Acredito que esta estrada seja engraçada mas apenas em velocidade supersónicas em motas sem passageiro e com terminações “R” nas siglas.

Segóvia, um bafoooooo do pior… ventoinha da mota a não parar de funcionar. Calor residual na traseira da mota devido aos alforges. Sem a menor dúvida… o calor tornou-se o nosso pior inimigo. Céu limpo e tempo seco como se quer para andar de mota com menos receios de quedas. Mas o calor era abrazador. Não fazemos nem mais um KM. E mesmo assim esta etapa foi a mais comprida até a data. Fizemos uns valentes 450km e já só tínhamos uma missão, chegar a casa. Continuando a nossa táctica de alojamento em zonas centrais e ou históricas.
Ficamos no Hotel Acueducto - http://www.hotelacueducto.com/es/princi.html , e pela 1ª vez em toda a viagem a mota iria ficar em parque publico de outro Hotel (http://www.eurostarsplazaacueducto.com/) mais a baixo na mesma rua. Hoje teria ficado no 2º hotel, as pessoas são mais simpáticas e o preço final com a dormida da mota ficaria sensivelmente igual. (foi a nossa noite mais cara, ficou em 14eur o parque da mota e o quarto a 67eur). Para jantar fomos para o centro onde ao lado do Aqueduto romano havia umas esplanadas junto de umas arcadas de uns edifícios da rua principal pedonal. De noite e um calorzinho numa esplanada a ver as vistas, é bem melhor que andar de mota com um calor desconcertante.

De Segóvia a casa temos agora mais coisa menos coisa.. 650km. O que justificou a redução de percurso a norte e 2 dias para os efectuar. Mantendo a média estava tudo certo. Para amanhã e para reduzir “escaldões” decidimos arrancar mais cedo e fazer caminho aproveitando a manhã, pois a tarde era uma incógnita. Casa era a meta.

Amanhã há mais…

A reter neste percurso: Não andar na torreira do sol. As estradas são boas, mas já não tem aquela dinâmica rítmica.

O início do regresso

Chegámos ontem ao final da tarde. Os chocolates que comprámos para oferecer, acabaram numa taça transformados numa mousse de chocolate divinal, tal fora o calor.

Saímos na 5ª feira de Santillana del Mar, depois de algumas fotos e de uns pequenos souvenirs comprados para as crianças. Era o primeiro troço rumo a casa. Agora o objectivo seria fazer quilómetros.
A estrada era mais monótona, tanto para o condutor já que curvas quase nem vê-las, como para a pendura, que, ainda que a paisagem continuasse a ser apreciável, o calor começara de tal forma a apertar que já se tornava difícil a abstracção do mesmo. Assim, mais paragens eram exigidas, entre as paisagens cada vez mais planas, onde começavam a predominar as plantações de trigo, batata e girassol. Numa destas paragens, deixámos gravado num poste a prova de que ali estivéramos.
Pernoitámos em Segovia, desejosos de um banho restaurador. O calor tornou este dia bem cansativo. Até a passarada estava desenfreada, esvoaçando num corropio pelos céus da cidade. Soube-nos bem jantar numa das esplanadas junto a um dos ex-libris desta cidade, o famoso aqueduto.

It's a long way home.

(pontos 19, 20, 21, 22, 23 e 24 no mapa)

8h da manhã. Pensamento do dia: andar o máximo de manhã, enquanto não está tanto calor. Não eram 10h já estávamos em cima da bifa a partir pela N-110 a caminho de Ávila. Planícies e rectas foi a nossa realidade. Nem sei bem como definir esta fase, se bom se mau. De toda a maneira, estávamos com “casa” em mente, ou por cansaço ou pelo calor, ou porque de facto depois da experiência pelos Picos de Europa as estradas ficaram entediantes. Qualidade impec, nada a dizer. Tomaram as nossas nacionais terem a manutenção das estradas espanholas. Já sentimos o calor a subir... e vem para ficar.

Numa fase de mega recta em que, literalmente, o final era um ponto de fuga no horizonte, passando Ávila sempre na N-110, apeámos numa paragem de autocarro em Poveda para nos hidratar e para um xixizinho (eu, claro!). Quando olho para o lado e vejo um poste metálico pintado que estava assinado e marcado por passageiros que por ali vão esperando, lembrei-me: vamos deixar também a nossa marca. E assim foi Flávio + Carla + Triumph, 16-07-2010.

Continuámos pela EXTREMAdura (calor e temperatura no seu melhor) quando, novamente, somos presenteados por uma estrada de Serra.
Entretanto reparo que tenho por vizinho ou direi meu “asa”, um Porsche Boxster com um casal lá dentro. O senhor também me pareceu que estava deserto para fazer 5 a 10kms em modo “Playstation”. Num semáforo de obras na via, arranco 1º, e ainda o sinto a pressionar passagem. Mas o meu civismo motard não o permitiu, até que deixo de o ver. Quero pensar que ele quis espaço e deixou-me ganhar distância para ter corda para se esticar à vontade. Tanto melhor, pois podia não dar boa coisa, downhill de mota a 2, com carro atrás a querer sensações semelhantes. A zona a que me refiro tem por nome Puerto de Tornavacas.

Acabando a voltinha ao carrossel, parámos numa esplanadinha de um hotel a beira de estrada para beber mais qualquer coisa e perder mais uns líquidos extra suor devido ao calor que fazia se sentir (lá passa o senhor do Porsche!) Nesta paragem o vale é lindissimo mas ouvimos tiros de caçadores e cantos de aves, uma situação estranha pois parecia uma gravação em loop que tocava com ritmo vezes sem conta. Aqui apercebemo-nos que os chocolates estavam... errr, pois... isso... derretidos! Pensando bem, mas quem é que no seu perfeito estado de consciência e lucidês compra 5 ou 6 tabletes de chocolate para oferta e os enfia num alforge durante horas ao calor? Devíamos estar a pensar que a loja era algum free-shop e íamos de avião com ar condicionado. Dahhhhh!!!! Hello Flávio, onde estavas com a cabeça???!!

Depois de Tornavacas entrámos no Vale do Jerte que deve ser o local de produção de cereja em Espanha. Havia terraços de cerejeiras por todo o lado, já não em flor, mas com frutas prontas para a colheita. Todas as casas tinham “banquinha” no portão a indicar venda.

Novamente.. recta.. recta... e, sem destino de paragem para desfrute local, seguimos nosso caminho. A transição para a tarde, depois de Plasencia até Cáceres, foi o inferno. Um calor do pior, qualquer abrandamento do ritmo lá estava a ventoínha a bombar, numa tentativa da mota em fazer um pequeno “cooldown”. Muito perto de Placensia, entrámos na N-630 que, logo depois, se funde com a Autopista de la Plata A66 (qualquer semelhança com Route 66 é pura coincidência!), e passados alguns quilómetros, voltámos a ter indicação de N-630. Que estrada tão boa e parelela a A66, a fazer as delícias de qualquer aspirante a Fast Freddie, fato de cabedal, mota e kit de unhas. É tudo vosso!

A N-630, de repente, leva-nos finalmente a um português, não estava fácil. Seu nome é Tajo nesta bandas que, passando a fronteira passa a Tejo. Passámos por umas grandes bacias do Rio Tejo, foi espectacular, e com o calor confesso que ainda pensei: páro e improviso um mergulho. Mas não... “Missão Casa” era o objectivo principal nesta fase da viagem. E ainda era “It's a long way home”.

Em Cáceres mudámos para a EX-100 onde parámos para almoçar e seguir até Badajoz. Mas queeeeeeee calorrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!! Em Badajoz, era cedo, acho que nem 15h espanholas. Aqui ficou mais que decidido que esta noite já era passada em casa. Última ida à bomba atestar com o líquido precioso a um preço bem simpático comparativamente a Portugal. (1LT 95 ron = €1,15) e atestei-me também com um RedBull, não quero sonolência (não bebo e não gosto de café e o calor não ajuda nada).

Agora, entrando em Portugal e com a N4 segui segui...(em jeito alentejano, casa é já ali, xegue... xegue... xegue...) Borba, Estremoz, Vimieiro, Arraiolos, Montemor -O- Novo, Vendas Novas: aqui a nossa paragem habitual de bifanas ficou pela intenção, fome era nula ou quase. Devido ao calor queríamos era beber, e muito!

De Vendas Novas, sempre pela N4, o próximo ponto foi Pegões, onde virámos à esquerda para a N10 em direcção a Águas de Moura / Marateca e direitinhos para Setúbal.

Chegámos, finalmente a AngelFarm. Lar Doce Lar. Esta última etapa foi muito dura: o número de quilómetros percorridos foi 650, só hoje. O total foi 2350Kms, o custo dos 6 dias foi de 900eur (tudo incluído).

Depois dos banhos e sentados na sala, sorrimos e exclamámos: isto foi mesmo giro! A Carla parece que ficou fã deste tipo de saídas, ainda estávamos a relaxar, deixou a sugestão no ar – “Como é para o ano? Era giro ir à Escócia!”

Adorei! Estou estafado e quero abraçar a almofada. Para o ano há mais.

Ab, fLAVIO / fLUNX

A reter neste percurso: Não andar na torreira do sol MESMO!!!! Estremadura de verão... upa upa é Extrema_dura. N-110 ainda ha ali um troço de montanha espectacular.

Os últimos quilómetros

Os planos eram para sairmos cedo e chegarmos a casa o mais cedo possível. Quando “voltamos da festa” é assim. Fizémo-nos à estrada o que, durante a manhã até foi agradável, sobretudo ao descermos uma zona de montanha, bem íngreme, por estrada de curvas bem fechadas. Era uma região de caça, onde os sons dos tiros ecoavam intercalados com o canto das aves. Neste troço, até Plasencia, o ganha-pão destas povoações é a cereja. Nunca eu tinha visto tanta cerejeira, plantadas pelos socalcos destes montes do Vale do Jerte.

A partir de Cáceres, a viagem tornou-se um pouco tormentosa: o calor que se fez sentir, a planície a perder de vista, os rectões nos quais não se avista o fim e a ansiedade por estarmos mais próximos de casa fazem 3 horas parecerem 1 dia.

O balanço é mais que positivo, mas da próxima vez, não vou esquecer o calção de ciclista, o esfoliante e o halibut.

Esta viagem foi um desafio para nós e foi o triunfo (na Triumph) da coragem e do gozo. A repetir e a planear novos destinos… Escócia, talvez?!...