(pontos 13, 14, 15, e 16 no mapa)
Depois de ter ficado siderado, e sempre com receio de mau tempo ou até mesmo chuva como em Santiago, lá acordámos já com algum cansaço acumulado dos passados 3 dias de viagem que, apesar de terem sido apenas 3, já parecia que estávamos há semanas nisto. Não digo isto em tom depreciativo mas sim pela ideia de não pararmos muito tempo no mesmo sítio.
Olhei pela janela e... BOA! Está seco e um solzinho apenas com algumas nuvens lá no alto. Já de pequeno-almoço tomado e a mota “ready to travel”, siga para os Lagos e Santuário de Covadonga como 1ª étapa do dia. Vai ser na boa, pois a proximidade de Cangas é muita.
Finalmente lá transpusemos a porta dos Picos de Europa. Nada que enganar, qualquer placa é explícita e não deixa possibilidade de falhar o destino, mesmo sem mapa ou GPS, é sempre em frente (“sempre em frente” não é bem o caso, pois não há troço de estrada com recta superior a 200 metros). Subir, subir, curva, curva. O cenário revela-se grandioso e neste momento a Carla vence o medo de largar a pega do passageiro e pede-me a máquina fotográfica para ir registando, em movimento, alguns momentos e vistas com que nos deparávamos.
Chegámos a Santa Cueva, uma capela junto à estrada em direcção ao santuário. A capela é construida no alto de uma rocha alcançável por uma escadaria e ladeada por uma queda de água com vista privilegiada para o santuário de Covadonga, como que em antevisão ou espécie de antecâmara da basílica (se se pode assim chamar).
http://www.santuariodecovadonga.com/subnivel2/vicueva.htm
500m mais acima chegámos ao Santuário, uma basílica de estilo neo-românico de pedra rosa e mármores extraídos ali das montanhas de Covadonga. Tirando alguns Bus repletos de turistas e a musiquinha dentro da Basilica (um cântico completamente desapropriado para quem, julgo eu, quisesse orar em paz). A envolvência era uma imensidão de verde tranquilizador. Também por lá estava uma estátua do príncipe visigodo Pelayo (espécie de D. Afonso Henriques de nuestros hermanos) a saudar-nos as boas vindas.
No regresso para baixo, desviámos para os Lagos (Enol e Ercina). A descida foi de pouca dura pois agora era sempre a subir e escoltados por vacas e cabras selvagens do Parque Natural de Picos de Europa. A temperatura a descer, as nuvens também, ou então éramos nós que estávamos a ir ao encontro delas.
De repente temos fila de trânsito... Estranho! Era então um cão pastor a levar seu rebanho de ovelhas e cabras a pastar. Pastor nada, o cão dominava por completo. O nevoeiro começa a tomar conta da estrada e à chegada aos Lagos, nada vimos além de um manto branco.
Ficámos, literalmente, à entrada, no início da gravilha e estrada de terra batida que nos leva aos lagos e suas vaquinhas a pastar. Eu acredito que tudo lá estivesse, mas não deu para ver, fica para uma próxima incursão aos Picos. A descer, o ritmo ficou mais ligeiro, até porque o alcatrão tinha minas e armadilhas. Bosta de vaca “sagrada” do sítio. Caso para dizer que a descer até as vacas se borravam todas. A meio paramos no Mirador de la Reina, mais um ponto de apreciar a vista a mais de 180º e 20km de distância, Só lá estando, não há lente que consiga captar e mostrar este quadro.
De volta a Cangas, um último olhar sobre a ponte romana e um adeus. Rumámos a Riaño pela N-625. Que bela estrada, 60km de pura diversão. Ideal seria fazê-la sozinho e sem malas, mas talvez tenha sido melhor assim, pois poderia ter dado vontade de cometer alguns excessos (não de velocidade, pois essa não dava, mas de condução espirituosa).
60km que noutras situações seriam feitos em 30min, aqui nem 1hora e meia chegou para me levar ao destino. Mas que estrada! Desfiladeiros e rochas a pique era o cenário (será que não me esqueci de nada no Hotel para ter que voltar atrás e refazer o caminho ? Se tivesse de o fazer, não seria divertido, pois a exigência do traçado era muita e a dois e com bagagem não foi fácil, mas foi bem porreiro!).
Novamente impossível falhar os destinos, está tudo bem indicado. Passámos o Desfiladero de los Beyos http://es.wikipedia.org/wiki/Desfiladero_de_Los_Beyos. O tempo, deste lado dos Picos, estava melhor, a temperatura aumentou e o céu limpou por completo. Que estrada, que vistas, não parecia ter fim, ao contrário da gasolina que, confesso, senti algum receio de ficar apeado, pois neste tipo de trajecto a autonomia reduz brutalmente e postos de abastecimentos nem vê-los. Não há curva igual, rectas, nem uma, uma sequência sem fim de curva e contracurva, esquerda, direita, esquerda direita. Uma Loucura!
Depois de tanto tempo a curvar, num simples virar de esquina somos brindados com uma vista lindíssima que é a chegada a Riaño, qualquer ponto de paragem permite uma foto digna de postal.
Riaño foi a nossa paragem para almoço e abastecimento da mota. Localidade com um enquadramento espectacular mas com um ar de vila fantasma, ao mesmo tempo. É muito estranho. Existe um banco, 2 ou 3 restaurantes, hotel, 2 cafés, um posto de abastecimento, centro náutico, um pavilhão desportivo, parque de campismo, umas linhas de prédios novos. Mas acabo por entender: Riaño original foi submersa nos anos 80 devido à construção de uma barragem e em consequência, uma nova Vila se ergueu.
Ao estacionar a mota vimos que havia 2 Triumph (América e Rocket III) originais, bifas genuínas, até na matricula, ao lado uma família de holandeses que viajava em 3 motas. Pai numa BMW RT com a filha (15 anos), a mãe numa F650GS e filho mais velho em CBR 900. Numa breve conversa soubémos que as férias deles eram a passear até Espanha (muito à frente!!!!).
Agora, destino Potes pela N-621, a contornar mais um pouco dos Picos já mais em direcção à costa, novamente. A saída de Riaño é uma estrada chata com pouca manutenção (tenho estado mal habituado nesta viagem pois Espanha faz manutenção das suas estradas nacionais e, mesmo as secundárias, como ninguém ou direi mesmo como não acontece em Portugal (eu não queria, mas é a verdade). Neste capítulo tenho sido presenteado com estradas quase a estrear e de alcatrão excelente.
Começámos a descer para Potes e parámos num miradorouro de que não me recordo o nome, mas que tinha um estátua de uma cerva (a mãe do Bambi imortalizada lá no sítio) e mais uma vez uma vista até perdê-la.
Curva, curva… descer, descer... Nunca fiquei sem travões. Usar o travão motor nestas situações é primordial, sobretudo a dois e com carga. A Carla não achava muita piada a curvas à esquerda com o penhasco a seu lado e também não enjoou. Tranquilo, no problems, temos pendura a séria!
Em Potes considerámos a ida a Fuente Dé, mas o desvio, custo e tempo fizeram com que também esta paragem ficasse para uma outra vinda aos Picos.
Continuámos pela N-621, que nos levou até à costa em Unquera. Estas estradas nacionais são de facto um mimo. Agora já não temos apenas curvas, mas mesmo assim uma delícia.
A temperatura, já mais amena, e um cheirinho a maresia no ar certifica-nos que o mar está bem próximo.
Voltámos ao encontro de uma já nossa conhecida, a N-634, até San Vicente de la Barquera. Vila piscatória onde parámos para um cafezinho numa esplanada e para descansar um pouco, pois o nosso dia, apesar de poucos kms percorridos, tinha sido o de maior estafa.
Seguimos pela “marginal” (N-634) até que, antes que ela nos levasse para o interior, virámos à esquerda para a CA-131 até Comillas. Ficámos de boca aberta, Comillas deve ser das vilas do litoral mais conhecidas aqui da Cantábria banhada pelo oceano, totalmente virada para o turismo de veraneio, mas já de longa data. Uma “Vila de Cascais” aqui da zona. Destino de praia de gente rica desde o início do século passado, de certeza pois as casas, casarões, mansões enormes são de uma arquitectura pitoresca apalaçada e super bem mantidas. Aqui, o cemitério é um dos ex-líbris com o seu anjo a proteger os seus habitantes.
Chegando ao centro, a animação é grande, um ambiente de sempre em festa. Ponderámos logo passar aqui a noite, mas ainda tínhamos a vila de Santillana del Mar por ver, que era já ali ao lado.
Ficamos ou seguimos? Seguimos, mas com o pensamento de que, se não achássemos a próxima paragem interessante, voltaríamos para trás.
CA-131 até Santillana del Mar, apesar de ter mar no nome, nem vê-lo.
Para finalizar o dia, acho que melhor paragem não poderia ser. É, de certeza, uma das localidades de maior valor histórico de Espanha, autêntico tesouro arquitectónico românico, uma vila totalmente virada para o Turismo, parada no tempo. Carros, só para carga e descarga de material. Museus, Igrejas, restaurantes e lojinhas, todas muito bem integradas.
Novamente, a saga do Hotel: onde ficar e com a “miúda” abrigada? A nossa escolha recaiu sobre o Hotel Los Infantes (65eur com pequeno almoço e mota abrigada inc.) http://www.hotel-santillana.com/hotel_los_infantes. Depois da descarga e entrada no hotel, um banhinho revigorante e estávamos prontinhos para um passeio pela vila já com mais calma e decidir onde iríamos jantar.
Adorámos o Museu do Barquillero com a exposição de brinquedos e jogos tradicionais http://www.flickr.com/photos/lumiago/sets/72157608793795715/. Lojas com iguarias tradicionais, era só escolher o que comprar: o chouriço, “fabadas” (feijão grande), chocolates artesanais com os mais diversos sabores. Sem a menor dúvida, uma paragem obrigatória!
Amanhã, a grande indecisão: seguimos até SanSebastian / Biarritz e descemos por Pamplona até ao último dia das festas de San Firmin ou começamos já a descer sobre Madrid para um início de regresso a casa? Grande dilema, a noite será conselheira.
A reter neste percurso: O melhor dia de estrada do passeio… não há reparo ou escolha. É de uma ponta a outra.
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