“- Oh Santiago, podias ter falado com Sanpedro!”
Fizémos os últimos 40 kms de hoje sob chuva molha tolos. Foi concerteza Santiago que, sabendo que viríamos, quis abençoar-nos, mas não havia necessidade. Só um banho quente e um jantar de tapas me restituiu o conforto para poder descrever a etapa de hoje.
Saímos de Gaia em direcção à Costa da Caparica dos portistas, baptizou desta forma o Flávio, a costa ocidental a norte do Porto. A paisagem, mais uma vez, não é esplendorosa. A não ser ter-me apercebido que muita maçaroca se produz por aqui, só me despertou a atenção verificar a mão destrutiva do homem sobre a natureza. Calma, não sou pragmática ao ponto de me opor ao desenvolvimento e à civilização. Sou apenas a favor do uso de maior tenacidade na interacção entre estes 2 mundos. A verdade é que ambas as realidades são necessárias para a sobrevivência do homem, mas parece que este se esquece inúmeras vezes que ao invés de arruinar ou destruir a paisagem natural, que fere os sentidos, porque não embeber o progresso neste meio, introduzindo as evoluções tecnológicas com subtileza?! A questão do gosto também pesa, claro, e o homem é exibicionista por natureza, tem que mostrar o fruto da sua criação. Enfim, numa região em que predominam parques industriais e a construção é desmedida, sem ordenação ou coerência, a paisagem é poluída. Senão vejamos um exemplo muito concreto desta nossa forma de interagir com o ambiente natural. Póvoa do Varzim é uma cidade costeira, com alguma imponência. O porto de abrigo faz lembrar o da Nazaré. A praia é imensa, orlada pela marginal, qual Copacabana movimentada: gente que faz o seu jogging, velhos que fazem o seu passeio matinal, acidentados que exercitam pernas engessadas, mães recentes que levam os seus bébés à rua, enfim, todos gozando o privilégio de poderem usufruir deste ar refrescante com cheiro a maresia. No entanto, metade do areal está ocupado com bares e restaurantes que retiram, de imediato, o mar do alcance da vista. Depois, além de cada destas barraquinhas ter música própria, ainda se ouve, em permanência, uma estação de rádio, através de altifalantes dispersos pela rua. Um absurdo! Mas quem é que teve esta infeliz ideia? O barulho do mar e os sons da praia, alguém não gosta?! Esta deve ser uma praia cosmopolita, concerteza, cheia de progresso, mas este nível de interferência já roça bem a falta de gosto e até de bom senso. Apesar disto, o natural é belo: o azul profundo da água do mar e a consistência da areia em tudo me lembraram a praia da Nazaré. O dia estava fantástico e o sol apetecível mas, a avaliar pela luminosidade e pela fresca brisa à 1h da tarde, esta praia deve fechar por volta das 5h.
A paisagem começa a mudar à medida que avançamos. O Minho é de facto riquíssimo em diversidade. Do lado esquerdo avistávamos o mar, de praias agora mais selvagens, e escoltadas, à direita, por montanhas. Chegados a Viana do Castelo, não resistimos a subir até Santa Luzia. A subida, em caracol, é agradável, pelo cheiro a giesta e outros verdes e pelo som do vento a assobiar. Até as casinhas pelo meio da encosta são pitorescas e bem enquadradas. Já quando alcançamos o topo, fiquei surpreendida ao ver uma égua com a sua cria que circulavam livremente por ali. De resto, chocou-me a vista porque se vê imensa daquela intervenção humana chamada mal necessário, assim como ver instalado naquela basílica um elevador todo modernaço e a escadaria para a cúpula, que se avista do exterior, protegida com uma vedação em vidro e metal, integrados numa arquitectura com elementos neo-românicos, bizantinos e góticos (deverei acrescentar na wikipédia um outro elemento, talvez o contemporâneo?!)
Continuámos a subir e a concluir que quanto mais natural, mais belo. Passámos por Vila Nova de Cerveira e fomos até Valença onde, dentro da fortaleza, parámos um pouco. Parecido com Óbidos, o conceito e a história, claro, já a construção é característica em cada caso. Também idêntica a comum exploração comercial.
Eis-nos, pois, em terras de nuestros hermanos, ressacando a vitória da sua selecção, ontem, no Mundial Fifa 2010.
Entre Pontevedra e Santiago de Compostela, passámos por Padrón. Este nome não me era estranho, até que, à beira da estrada, se vão vendo vários vendedores com suas pequenas bancas amontoando os afamados pimientos lotaria que eu tanto aprecio!
A hora local vai reduzir o nosso tempo de sono pelo que, amanhã será outro, esperamos que menos chuvoso, dia.
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