Continuámos a descer para voltar a Cangas de Onis e subir os Picos pelo lado oposto. Foi mais de uma hora de viagem, em estrada serpenteada por entre escarpas, vales e montanhas entrecortados por rios e ribeiros, envoltos num silêncio de ouro apenas perturbado pelo eco do barulho da mota. Só faltou mesmo esta ser ecológica, porque tudo o resto parecia a deambulação por um sonho. Viajar de mota tem a vantagem de estarmos no exterior e tudo em redor gera emoções: as diferenças de temperatura que vamos sentido, ora mais fresco, ora mais calorzinho; os cheiros: uns matam, como em alguns locais onde abundam vacas, outros denunciam presenças de verde ou de mar; até olhar a paisagem é diferente, as imagens passam como em 3D e se olharmos para cima, de vez em quando vemos uma ave de rapina a planar em busca de alimento; a imponência da montanha reduz-nos à pequenez que humildemente assumimos e de bom grado aceitamos.
Uma forte dor de cabeça instalou-se-me, na descida do desfiladeiro de Beyos mas ainda assim me embeveci quando nos deparámos com um leito imenso, um lençol de água azul, um espelho de água a envolver a vila de Riaño, onde almoçámos, sob um sol e um calor de que já sentíamos saudades.
Depois de uma “hamburguesa” do mais caseiro que comemos, seguimos até à costa norte, passando por San Vincente de la Barquera, uma pequena e simpática vila piscatória, depois por Comillas onde tirámos umas fotos na praia (o final da tarde estava carregadíssimo, parecia que ia chover, mas havia gente na praia e no banho e crianças a brincar, enfim: “se viémos para a praia, então nem que chova, vamos estar na praia!”). O centro desta vila era tão pitoresco e tão cheio de vida que me deu vontade de ficar por aqui esta noite, mas ainda bem que continuámos até à última localidade antes de iniciarmos a o regresso. Santillana del Mar, mar nem vê-lo, só mesmo no nome. Os Celtas andaram por aqui, de tal forma está preservada esta vila, que parece que ainda cá moram. Visitámos o Museu do Brinquedo local, que nos fez viajar no tempo. Aqui é o mundo da bijuteria que alude à simbologia daquele povo e do chocolate preparado de forma artesanal. É também engraçado ver kits de “fabada” à venda. Não, não é favada, é feijoada! Esta zona é também produtora de feijão branco (em Cangas de Onis já se lia “fabada casera” nas ementas, como entrada) e, a avaliar pelo preço, deve ser o marisco cá da terra. Como tal, empacotam uns gramas desta leguminosa em embalagens de ar comprimido, juntamente com uns “enchidos e embutidos” transformando assim este sugestivo kit num presente original.
"Quero comer sopa, só quero mesmo uma sopinhaaaa...!" É que não houve ainda refeição em que não tenha comido batatas fritas, com carne porque peixe só merluza (e comi só uma vez, para desenjoar) ou ovos: fritos, revueltos ou em tortilha, muitos ovos come esta gente!) Sinto o meu corpo intoxicado. E não é que onde jantámos hoje, havia uma entradazinha de legumes?! Não, não era sopa, ou melhor, eram os legumes todos cozidos, sem água, num prato de sopa, não muito atraente, mas soube-me tão bem! E para sobremesa, um "arroz con leche", muito próximo do nosso arrozinho doce, que estava uma maravilha.
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